sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Da Alma XVII - A Responsabilidade Pessoal




No seguimento do texto anterior - Valores morais e a sociedade - hoje vou falar sobre a responsabilidade pessoal. 

Estas coisas estão todas ligadas e se há aspecto que está a desaparecer, junto com a moralidade, é o aspecto da responsabilidade. Todos já passamos por isso, por momentos em que dizemos que a culpa é de outro, que a situação aconteceu daquela forma porque não tínhamos escolha ou porque nos disseram para fazer assim. 

Vou contar uma história que aconteceu comigo.
Durante o meu primeiro trabalho de investigação - a parte da licenciatura - eu fui chamado para trabalhar um assunto desde raiz. Como não percebia nada sobre como investigar - principalmente algo de raiz - eu debrucei me muito sobre os meus orientadores. Eles ajudaram-me muito mas eu, que já era maior e vacinado e tinha uma cabeça para pensar, não fiz uma coisa essencial em qualquer trabalho de investigação - pesquisa bibliográfica  Isto é básico e eu não o fiz porque acreditei - cegamente - nas coisas que me eram ditas sem verificar a literatura. As pessoas falham e um dia eu tinha uns resultados e fui falar sobre eles. Seja por causa das tarefas das aulas e correcção de trabalhos/exames, a resposta foi rápida e foi de "os resultados estão dentro da normalidade". Por estranho que pareça, eu nunca me senti bem em relação aos resultados - sempre os achei errados de alguma forma. Mas, em vez de ir verificar a quem sabe - a quem trabalha na área e tem artigos publicados, eu disse - "eles disseram que está bem". De novo não fui ler a literatura. No final de todo o trabalho e com os resultados finais em mão eu fiz uma apresentação e disseram que "os valores estão altos demais, algo está errado com isso". Naquele momento uma vozinha manhosa da minha cabeça dizia-me - "mas foram eles próprios que disseram que estavam dentro da normalidade à umas semanas atrás". Por semanas fiquei com isto na cabeça mas um dia, distanciado do problema decidi ir ler umas coisas e vi que, bastando ir ler a literatura, eu saberia que estava algo errado.

Poderão dizer que eu era novo, inexperiente. Têm razão e por isso as consequências não foram piores mas eu já tinha uma licenciatura tirada e conhecimento suficiente para saber, pelo menos, o método cientifico. Uma situação destas com alguém mais 'severo' ou em uma empresa e a minha situação seria bem pior, para mim e para a empresa. Tudo porque eu fiz o que me mandaram cegamente sem pensar por mim próprio - esta é a questão essencial - eu ignorei o meu instinto, o meu conhecimento, apenas para seguir um caminho mais fácil - fazer o que me mandam sem pensar.

As pessoas falham. Quem nos lidera - seja numa empresa, seja em casa na família - irá falhar também. Toda a gente erra. O que nós não podemos fazer é culpar os outros pelos nossos erros. Eles não me alertaram para o erro mas eu também não li a bibliografia, não fui ao fundo da questão. A minha responsabilidade era essa.

Este meu exemplo é transversal a muitos outros. Tinha colegas meus que culpavam os professores devido às suas más notas mas eles apenas estudavam nas vésperas dos testes. O professor podia não ser o melhor professor do mundo, até podia dar mal as aulas, mas os alunos não Estudavam. A responsabilidade do aluno falhou nesse ponto pois ele não fez o que deveria fazer - Estudar. Senão como explicam alguns passar  nos exames e outros não? Fosse apenas culpa do professor então TODOS reprovariam... mas não, apenas alguns reprovavam.

Um filho delinquente normalmente culpa os pais por ser assim. Muito normal hoje em dia. Os pais são quem nos ensina os primeiros princípios morais. Mas não acham estranho que um filho que sabe que é delinquente e sabe que faz asneiras - de uma forma consciente - ainda culpa os pais por isso? Se ele sabe que faz asneira então ele faz - deliberadamente - asneira. Os pais ensinam e educam mas cabe aos filhos fazer dessa educação, ou falta dela em muitos casos, algo de bom.

Sempre defendi que a escolha é sempre nossa. Nós temos sempre a faca e o queijo na mão. Temos sempre a escolha de fazer algo de bom ou fazer algo mau. Não podemos culpar os outros pelas nossas  pobres escolhas. Fico triste quando vejo pessoas que culpam tudo e todos pelas suas infelicidades mas não conseguem olhar para elas próprias e ver as más escolhas que fizeram no passado. A maior parte das vezes as coisas correm-nos mal porque nós é que nos colocamos nessa situação em primeiro lugar. Uma jovem não apanha bebedeiras apenas porque os amigos insistiram com ela para ela beber, ela apanha as bebedeiras porque ela, em plena consciência, pegou o copo e bebeu. Como eu não posso culpar um ex professor meu pelos meus maus resultados quando era eu que não pegava num livro para estudar.

Quem diz que o exemplo vem de cima normalmente não tem a coragem de ser um exemplo por ele próprio. Todos nós podemos ser um exemplo de algo bom - apenas temos de escolher ser esse exemplo.

Só existe uma pessoa responsável pelas nossas acções e escolhas - Nós próprios.

2 comentários:

  1. Olá!

    Concordo com tudo o que escreveste e com o post anterior também já agora.

    Eu sempre fui aquela pessoa que ia a todas as aulas por mais secantes que fossem, mesmo que só estivesse lá 4 ou 5 pessoas e no exame tivessem inscritas quase 300... Sempre fui aquela pessoa que depois toda a gente pede apontamentos, e depois toda a gente fica pasmada como é que eu consigo tirar boas notas -.-
    E é raro queixar-me de algum prof, mas normalmente ouço sempre queixas de quem nem lá põe os pés... Estranho não?

    Claro que houve tempos eu que dizia que fiz algo porque toda a gente faz e etc mas já me deixei disso. Até porque é meio pateta usar os outros como desculpa...

    Sabes dá trabalho tentarmo-nos melhorar a cada dia. Mas eu também não gosto da vida fácil. Não tinha piada.

    Beijinhos

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    1. Obrigado pelo comentário :)

      Essa ultima frase que escreves-te diz tudo - Dá trabalho tentar melhor a cada dia - Implica até algum sacrificio das coisas que gostamos mas que, no fundo, não são boas para nós. Implica até paciência - pois vamos falhar e é fácil deitar tudo ao ar e voltar ao inicio. Mas vá, como dizes, e eu também costumo dizer - SE fosse fácil perdia a piada toda :D

      Beijinhos :)

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