Da Religião XXV - Parábola dos Julgamentos

Sei que não existe uma parábola com esse nome mas decidi chamar-lhe assim. 

Acho que muitos estão familiarizados com Mateus 7:1-5, ou melhor, com a célebre frase "da forma como julgares serás também julgado". Mateus 7:1-5 diz  o seguinte:

Não julguem, para que vocês não sejam julgados.

Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.

"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?

Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?

Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão. 

Chamei de parábola por causa da comparação usada no 4º versículo "Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?"

Esta comparação é bastante realista e há quem use uma parecida que é "quem tem telhados de vidro não deveria atirar pedras". 

Enfim, o que não faltam são provérbios e parábolas a nos avisarem que fazer julgamentos é algo muito mau, principalmente para nós próprios.

Como Santos dos Últimos dias, nós somos instruídos, ou melhor, somos aconselhados a viver uma vida transparente, como qualquer discípulo de Cristo. Desta forma teremos toda a legitimidade de falar das coisas que são certas e moralmente correctas (não falo de apenas doutrina aqui) e as pessoas não poderão nos acusar de fazer essas coisas. O provérbio "Olha para o que eu digo mas não olhes para o que eu faço" é a maior treta que alguém poderia usar para justificar os seus actos. Nós não podemos pregar rectidão e bons costumes quando, longe dos olhos dos outros, nós fazemos o que é errado e até somos capazes de usar como desculpa "tinha de ser..não havia alternativa". Meus irmãos - há sempre alternativa. 

Nós também temos a grande capacidade de generalizar, de fazer acusações baseadas em experiências pessoais e passar essas más conclusões para a generalidade e usar isso como desculpa. Todos nós já ouvimos falar da frase "Esta geração está perdida" ou "os homens são todos iguais", entre muitas outras. Devido a estes julgamentos que vamos fazendo, vamos condicionando mais a nossa vida. Por exemplo, quando uma mulher diz "os homens são todos iguais", ela irá fechar o seu coração a quem será bem melhor do que aquilo que ela experimentou, ou seja, quem saiu a perder foi quem fez o julgamento. Também saímos a perder quando vemos uma pessoa falar de coisas que ela acha serem o mais moralmente correcto e vamos atacá-la e dizer "és jovem, não sabes o que é a vida" ou coisas piores como "és um moralista" (no sentido de hipócrita). Nós não sabemos o que os outros viveram, não sabemos as suas experiências, as suas dificuldades, os seus problemas e demónios.. por isso nós não podemos julgar ninguém - porque nós não sabemos tudo. Além disso, nós não podemos julgar ninguém apenas porque essa pessoa peca de maneira diferente da nossa, porque todos somos pecadores.

Nós podemos julgar situações, contextos, pois só com este julgamento nós podemos fazer escolhas acertadas ou saberemos como ajudar, instruir ou alertar as pessoas. Mas nós não devemos e, no fundo, nem podemos julgar as pessoas - seja no seu carácter ou atitudes - pois nós não sabemos nada da vida delas. 

Das nossas bocas apenas devem sair palavras sãs, sem malícia  sem conflito, sem julgamentos. Só assim nós demonstramos real amor por nós próprios e pelas outras pessoas. Só quando deixamos de falar com duas pedras nas mãos e com um olhar de juiz, será apenas nesse momento que as pessoas começarão a confiar em nós.